sábado, 31 de julho de 2010

O livro mágico

Amélia estava no primeiro ano do Ensino Médio. Naquele estranho dia, sua mãe pediu a ela que fosse numa loja esotérica depois da aula para comprar incenso. Quando ela chegou na loja, não havia ninguém para atendê-la... Depois de chamar algumas vezes sem sucesso, foi entrando por uma porta que dava em outro cômodo. Esse cômodo era cheio de velas e lâmpadas coloridas, um pouco diferente e muito maior do que a recepção, e tinha algumas portas entreabertas. Sem sinal de qualquer pessoa não se sentiu intimidada a entrar, naquele estranho cômodo, viu objetos que desconhecia, palavras escritas em uma língua diferente e diversos tipos de potes cheios com algo que também desconhecia.
Deu alguns passos por dentro daquele quarto iluminado por luz de velas. Indo em direção a uma enorme estante de livros, havia lá uma extensa coleção de livros antigos, todos com capa preta e inscrições douradas; mas um livro em especial chamou a atenção a Amélia...
Estava bem centralizado na estante e estava afastado dos demais. Ao chegar mais perto, percebeu que nas inscrições se tratava de um livro de magia, e havia os seguintes escritos “The Book of The Sacred Magic”.
Curiosa como sempre, decidiu pegar o livro e ver do que se tratava, mal sabia ela que poderia se deparar com uma enorme aventura.
Na capa do livro havia um quadrado desenhado com letras dispostas sobre ele, como um caça-palavras, que havia feito na escola. Observou com atenção, mas nada percebeu, abriu o livro devagar, pois era antigo e parecia que ia se desmanchar. Logo na primeira página, mais letras dispostas em um quadrado que não parecia ter sentido... Então, quando ia foliar o livro, sentiu uma corrente de ar gelado passar por sua coluna, como se ali houvesse alguém tocando em suas costas, virou-se lentamente e, para sua surpresa, não havia nada ali.
Confusa, fechou o livro rapidamente, o colocou no lugar e voltou para casa.
No dia seguinte, decidiu voltar à loja e averiguar informações sobre aquele livro que havia despertado sua curiosidade.
Ao chegar à loja, se deparou com uma moça que aparentava ter uns 30 anos, com longos e ondulados cabelos pretos e olhos negros tão profundos que não conseguia parar de olhar. Até que a moça abriu um sorriso e se levantou, perguntando se a mocinha precisava de algo.
- Sim, preciso de alguns incensos para minha mãe.
- E? - Disse a moça.
- Eu gostaria de ter informações sobre um livro... Não me lembro seu nome, mas ele tinha um caça-palavras estranho na sua capa, e em sua primeira página..
- Um caça-palavras?
- Não era bem um caça palavras, mas era um quadrado, com letras escritas dentro dele...
A moça ficou um minuto parada e perguntou o nome da menina.
- Amélia, e o seu?
- Duvessa, também conhecida como Duv. E creio que o livro que você procura não pode ser achado aqui... Pelo que me descreveu, se parece com um livro peculiar e que nós não temos...
Ressentida, Amélia se conteve, abriu um sorriso torto e disse:
- Eu sei que você tem este livro, eu o vi, eu toquei nele e foliei suas páginas...
A moça enrubesceu, sentou em uma poltrona e disse que Amélia havia desvendado um mistério milenar.
Amélia, não entendendo nada, ficou pensativa e não conseguiu pensar em uma pergunta. Duvessa continuou dizendo que Amélia tinha um poder que nem sabia que existia. O seu nome já revela quem você é, e por você ter vindo aqui em uma noite especial e encontrado o seu livro de magia, já mostra que as forças do universo te trouxeram pra nós...
Amélia interrompeu Duvessa e disse:
- Espera aí... meu nome, meu poder é o que?
- Amélia, você não entende? Você tem uma bruxa dentro de si esperando pra sair e fazer o bem. O livro que você encontrou não pode ser aberto por qualquer um, somente por aqueles que podem domar o seu poder...
Amélia riu irônica, dizendo que logo ela, Amélia dos Santos, garota de 15 anos, cursando o ensino médio, era uma bruxa; que podia voar e fazer feitiços como nos filmes?
Duvessa fez de conta que não ouviu, ficou seria e contou que verdadeiras bruxas não são aquelas que voam ou tem vassouras mágicas, caldeirões com ‘ingredientes’ estranhos, verruga no nariz ou alguma dessas bobagens que os amadores contam. Mas bruxas verdadeiras são as mulheres que conseguem desfrutar da vida com sabedoria, seguindo as leis da natureza sem maltratá-la, usando o poder que foi concedido ao nascer, bruxas que proporcionam o bem e o alívio a outras pessoas com o poder da fala, e o poder da mente, que sabem ler cada momento. Nem todas as mulheres são bruxas designadas a ter um livro, mas todas nós temos habilidade de influenciar qualquer um, seja homem ou mulher, idoso ou criança. Uma mulher que naturalmente já é uma bruxa, pode mudar o rumo de uma história com uma lágrima ou um sorriso; só tem que saber escolher seu caminho.
Amélia ouvia com atenção cada palavra como se para ela todas tivessem um significado especial.
Duv continuava a explicar sem parar coisas sobre ‘o poder mágico das mulheres bruxas’, e Amélia se mostrava interessada, mas como era nova e não entendia muito bem o que acontecia ali, se desculpou com Duv e foi embora, sem querer saber do que realmente se tratava...
Amélia não foi a mesma nos anos seguintes. Ela era estranhamente adulta, sabia como dar conselhos aos amigos, ou deixá-los confortáveis num momento de tristeza, parecia também ter uma intuição sobre as coisas, mas isso toda mulher tem.
Mas, aos olhos de quem sabe ver, Amélia ou Guerreira sábia e persuasiva, era iluminada, que tinha um grande potencial canalizado, só não queria entendê-lo por completo.

Hellen Caroline - 202

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