sábado, 31 de julho de 2010

O anel do futuro

Amélia estava no primeiro ano do Ensino Médio, era uma menina normal não havia nada que a tornasse uma garota especial, tinha apenas uma amiga: sua melhor amiga. Não era daquelas garotas populares no colégio. Amélia sempre dizia a sua amiga que adoraria que sua adolescência passasse voando, porque para ela não havia nada de especial naquela fase da vida. Naquele estranho dia, sua mãe pediu a ela que fosse numa loja esotérica depois da aula para comprar incenso. Quando ela chegou à loja, não havia ninguém para atendê-la. Amélia achou estranho como uma loja poderia estar aberta sem que houvesse alguém para atender os clientes. Depois de chamar algumas vezes sem sucesso, foi entrando por uma porta que dava em outro cômodo. Esse cômodo era cheio de velas e lâmpadas coloridas, um pouco diferente e muito maior do que a recepção, e tinha algumas portas entreabertas sem sinal de qualquer pessoa, Amélia chamou mais algumas vezes, mas novamente ninguém atendeu. Foi quando a garota, ao se virar para ir embora, deu de cara com uma mulher estranha, era muito estranha mesmo: alta, de cabelos compridos e estava com um vestido longo até os pés. Amélia muito surpresa e até mesmo um pouco assustada, se afastou e pediu-lhe desculpas por ter entrando sem ter sido convidada:
_ Perdão senhora, não havia ninguém na loja por isso entrei, apenas vim comprar incenso para minha mãe, mas já estou de saída.
A mulher sem se apresentar indagou:
_Você já pegou seu incenso? Não vejo nada em suas mãos, como iria embora sem suas compras?
Amélia já louca para ir embora, respondeu:
_ É verdade, já ia me esquecendo. Se for possível gostaria de uma caixa, por favor.
A mulher foi até uma prateleira, pegou a caixa, embrulhou e entregou a Amélia. A menina pegou a caixa, pagou e se virou para ir embora. Então a mulher se virou para ela a chamou pelo nome:
_ Amélia, tem certeza que não quer mais nada?
A menina surpresa pelo fato, pois não havia se apresentado para a mulher, respondeu:
_ Não obrigada, é só disso que preciso, mas como sabe meu nome?
A mulher então convidou Amélia para um café e disse que adoraria conversar com ela, e que talvez pudesse ajudá-la com alguns conflitos de sua vida. Amélia aceitou, pois havia ficado curiosa e gostaria de saber quem era aquela mulher. Então elas se sentaram, a mulher serviu o café, porém Amélia não aceitou, ela não tomava café.
Então a menina perguntou:
_ Qual seu nome? Quem é você? Como sabe meu nome? E quem está cuidando da loja para estarmos aqui tomando café?
Então a mulher, surpresa com tantas perguntas, disse:
_ Curiosa demais você. Meu nome é Vânia, sei de seu nome porque você está usando um crachá de sua escola e a loja tem um dispositivo que me avisa quando alguém entra. Mais alguma pergunta, querida?
_ Não, quero dizer, ah! Enfim, o que quer comigo? Porque me convidou para um café? _ Perguntou Amélia.
_ Apenas queria conversar com alguém. Fico sozinha aqui, quase não entra ninguém. Gostaria de conversar, me conta um pouco sobre sua vida?
Amélia, sem entender ainda aquela situação, disse que sim. Não tinha nada para fazer mesmo, começou então a falar um pouco sobre sua vida:
_ Ai, eu não tenho nada de especial, odeio o colégio, odeio as meninas super populares, odeio os garotos dos esportes, ah! e também não gosto muito dos CDFs, são inteligentes demais. No mais, tenho apenas uma amiga, ela é legal, mas ao contrario de mim ela gosta da adolescência. Coitada! Acha que as coisas podem mudar para nós. Enfim, não há nada de mais na minha vida. Queria mesmo era crescer bem depressa e passar logo dessa fase de líderes de torcida loiras e meninos fortes sem cérebro.
Desnorteada depois de tanta informação, Vânia olhou bem para Amélia e disse:
_ Você odeia bastante né? Queria saber se tem algo que você gosta, mas não vou nem perguntar, apenas acho que você tem pressa demais. Cada coisa a seu tempo menina.
Amélia, já cansada da conversa, se levantou e disse:
_ Se me der licença eu já vou. Tenho dever de casa para fazer, e já está ficando tarde.
Vânia se levantou pegou uma pequena caixa e entregou para Amélia, ela então abriu e perguntou o que era:
_ O que é isso? Um anel de bala?
Vânia rindo respondeu:
_ Não querida, esse anel é muito valioso, foi de minha bisavó e agora estou dando a você.
Amélia então disse que não poderia aceitar, mas Vânia insistiu dizendo:
_ Aceita esse anel: é mágico realiza qualquer desejo. Mas também mostra qualquer verdade que a pessoa que o possua precise saber, aquela que ela não quer enxergar.
Amélia, se segurando para não cair em gargalhada ali mesmo, decidiu não render assunto, pegou o incenso, a caixinha com anel e se despediu:
_ Ok, levarei o anel, mas se ele não funcionar devolvo a você. Até mais senhora Vânia.
Vânia sabendo que Amélia não havia acreditado no que ela contou, mesmo assim se despediu e a convidou para voltar.
Amélia foi direto para casa. Chegou, fez um lanche, tomou um banho e foi para o quarto fazer a lição. Já havia anoitecido quando ela terminou. Já cansada, ela se deitou e então olhou para o anel que estava em cima da mesinha de cabeceira. Apenas olhou um tempo, mas não se conteve. Pegou o anel, segurou bem forte e, sem entender direito porque estava fazendo aquilo, fez um pedido:
_ Tá! Não sei se tem palavras mágicas, então vou ser bem direta: eu quero crescer, quero ter 25 anos.
De repente, uma luz forte entrou pela janela, invadiu todo quarto. Quando Amélia se olhou notou-se diferente: seu cabelo estava curto e seu corpo diferente. Ainda assustada, se levantou e percebeu que já haviam se passado 10 anos desde que ela tinha feito o pedido. Amélia não acreditava no que estava acontecendo em sua vida, ela havia finalmente passado por aquela fase que ela tanto odiava. Então ela saiu do seu quarto, mas não reconheceu a casa em que morava. Chamou pela mãe, mas ela não respondeu. Então olhou pela janela e viu que morava em um bairro diferente. Foi quando o telefone tocou, era do emprego de Amélia, ela estava atrasada, e se ela não chegasse em 10 minutos iria perder o emprego. Ela pediu desculpas, mas disse que não se sentia bem, portanto não iria hoje. Amélia queria saber de sua mãe, mas não encontrou nenhum telefone em sua agenda que pudesse ser dela e, revirando alguns guardados, encontrou uma carta, era de sua mãe. Nesta carta, sua mãe se despedia de Amélia e dizia que se sentia muito triste por tudo que havia acontecido, e que se sentia culpada pelo fato dela e Amélia não se falarem mais. Dizia também que devido a tudo que havia acontecido na adolescência de Amélia, temia que ela fosse uma adulta triste e frustrada. Foi então que Amélia percebeu que ela não pulou fases de sua vida, mas que passou por elas, de forma rápida, tão rápida que não se lembrava de nada que havia acontecido.
Sem saber o que fazer, Amélia se lembrou de Vânia e viu que usava o anel, ela não pensou duas vezes, foi direto à loja de Vânia. Chegando lá, encontrou Vânia um pouco mais velha e bem mais estranha do que ela se lembrava. Foi direto contando tudo que havia acontecido e pediu que ela lhe desse explicações. Vânia no entanto não parecia surpresa, e com muita calma lhe disse:
_ Não entendo você, não era isso o que queria: crescer depressa e ficar velha?
Amélia então olhou bem para ela e com indignação respondeu:
_ Não, eu não queria isso. Digo, talvez quisesse. Sei lá! Mas como posso não me lembrar, parece que nem tive passado, nem tive adolescência, o que contarei para meus netos?
Vânia então pediu que ela se sentasse, para que elas pudessem conversar. Então começou a explicar tudo que havia acontecido:
_ Querida, você queria tanto isso, que aconteceu. Você não pulou nenhuma fase de sua vida, ela só passou rápido demais. Tanto que você nem se lembra. Não aconteceu nada de interessante porque você não quis. Sempre se preocupou em olhar a vida das outras pessoas, e em julgar a sua chata demais. Você teve todas as chances de uma adolescente normal, podia ter muitas coisas para se lembrar, mas não fez nada.
Amélia escutou tudo atentamente, e muito surpresa perguntou por sua mãe, Vânia então lhe contou:
_ Ela se cansou de você, tentava de tudo para te ajudar, mas você sempre de mau humor só brigava com ela, então chegou o dia que ela deixou de falar com você. Foi nessa época que você se mudou e perderam o contato. Ah! e aquela sua melhor amiga se afastou de você porque ela queria muito ser uma adolescente normal. Hoje, ela é uma mulher realizada, está noiva e vai se casar. Nem preciso dizer que você nunca conseguiu um namorado: os garotos odiavam seu pessimismo e sua super “maturidade”.
Amélia estava chocada. Sua vida havia sido um grande fracasso até ali, ela queria poder mudar tudo. Então perguntou se havia uma maneira de voltar atrás:
_ Meus Deus, o que fiz da minha vida? Pior! O que farei daqui em diante, não há nada que eu possa fazer para voltar atrás?
Vânia então balançou a cabeça fazendo um sinal de negação e disse:
_ Você já viu alguém apagar o passado, voltar no passado? A vida não dá essa chance, querida. Tem coisas que não dão para consertar. Sinto muito! Volte para casa e tente fazer diferente daqui pra frente, é o que lhe digo.
Amélia se virou e triste voltou para casa. Estava inconsolável, não acreditava que sua juventude havia passado assim, em branco. Quando chegou em casa, foi para o quarto, se deitou e chorou, chorou muito e se arrependeu de tudo. O que mais queria era voltar no tempo. De tanto chorar, acabou pegando no sono. Dormiu. Quando acordou não entendeu: ela tinha de novo seus 15 anos! Era de novo uma garota, sua mãe estava na cozinha fazendo café e já era hora de ir para escola. No seu dedo estava o anel e em sua mente tudo o que havia acontecido. Ela parou e pensou por um tempo, percebeu que havia sonhado e que nada havia acontecido. Amélia foi para o colégio, mas nada saiu da sua cabeça, então ela foi até Vânia. Contou a ela tudo o que havia acontecido. Vânia sorriu e pediu o anel de volta, Amélia não entendeu e perguntou:
_ Como assim? Me presenteia e depois pega de volta?
Vânia ainda sorrindo e disse:
_ Ele já foi útil para você. Te mostrou a verdade sobre sua vida, te ensinou que cada coisa tem seu tempo e que tudo que vivemos na vida serve para que possamos aprender a ser gente grande. Você não precisa mais dele.
Amélia riu e devolveu o anel. Agradeceu a Vânia e foi embora.
Amélia percebeu que, na vida, cada fase tem sua importância, e que nós temos o poder de fazer nosso futuro.
Ela nunca descobriu se foi sonho ou não, apenas sabe que tudo aquilo a ajudou para que desse maior valor para sua vida naquele momento. Daquele dia em diante, ela fez o que pôde para ser mais feliz. Isso porque ela queria ter algo para contar aos seus netos, se um dia ela os tivesse.

Débora Evelyn - 202

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