sábado, 31 de julho de 2010

O Boneco Chinês

Chegando em casa, Pedro notou que a porta da sala estava entreaberta. Ele nunca deixou de verificar as portas e as janelas quando saía. Então, entrou bem devagar tudo à sua volta. Na sala e na copa, parecia tudo normal. Continuou andando sempre com muita atenção. Quando chegou à cozinha... Teve uma grande surpresa, seu tio Bruno estava de volta de mais uma das suas viagens pelo mundo, e ele sempre lhe trazia presentes!
Dessa vez seu tio voltava da China, e Túlio estava muito contente, pois sabia que na China havia muitas quinquilharias maravilhosas. Pedro pulou em seu pescoço de alegria em ter seu tio de volta.
Seus pais sempre lhe diziam para não ser indiscreto e sair pedindo presentes. Mas imediatamente seu tio tirou de sua bolsa a tiracolo um boneco marionete tradicional da China. Ele tinha o rosto branco, olhos negros, com sobrancelhas grossas e arqueadas e uma boca fina e vermelha, o corpo era feito de seda negra, e os braços, com os punhos cerrados, se moviam.
Havia algo de assustador no conjunto, na expressão facial, nos punhos cerrados, Pedro agradeceu meio constrangido com o presente, mas logo o deixou de lado. Na hora de dormir, levou o boneco para o quarto, no primeiro andar da casa, e o colocou em cima da sua estante.
Como havia acordado para ir cedo à escola, logo pegou no sono. Mas logo acordou com um barulho de vento: a janela havia sido aberta. O menino estranhou o acontecimento, mas logo voltou a se deitar - sem antes lançar um olhar para o boneco, que estava em outra posição. ”Devo estar sonhando”, pensou o menino antes de fechar os olhos.
Algum tempo depois. Pedro ouviu, mas um barulho. Desta vez, seus gibis caíram da estante e o boneco havia sumido. Pedro nem pensou em arrumar a bagunça, mas um frio percorreu sua espinha.
Agora, a cabeça no travesseiro não estava tão leve assim e o sono custou a aparecer. Então, finalmente adormeceu.
Estava na fase mais profunda do sono e nem sentiu a seda negra roçando no seu rosto, enquanto os punhos cerrados tapavam sua boca e seu nariz com um travesseiro.
Até que, sufocado, Pedro tentou em vão se livrar do travesseiro. Quando já estava praticamente sem ar conseguiu arremessar a marionete para longe. O boneco tinha um olhar maligno e blasfemava palavras em chinês antigo.
Pedro alcançou a porta, mas estava inexplicavelmente trancada. O boneco cresceu e virou um homem, que descerrou os punhos e revelou mãos longas e calejadas, com os dez dedos, perfurou o pescoço de Pedrinho, de onde jorrou muito sangue, o grito do menino não foi ouvido pelos pais, pois o espírito chinês o absorveu. Depois de beber todo o sangue, o boneco voltou ao seu estado normal.
No dia seguinte, os pais entraram no quarto de Pedro para acordá-lo (a porta já não estava mais trancada) e não o encontraram.
O quarto estava todo arrumado, na cama, impecavelmente forrada com um cobertor vermelho estampado com flores orientais, encontravam-se a marionete e um menino de madeira com dez furos no pescoço e uma inscrição: ”Da China me levaram, mas um preço alto pagaram”.

Bianca - 202

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