terça-feira, 17 de agosto de 2010

Memórias e tragédias

Domingo de manhã. Túlio chegou em casa e notou que a porta da sala estava entreaberta. Ele nunca deixou de verificar as portas e as janelas quando saía. Então, entrou bem devagar olhando tudo à sua volta. Na sala e na copa, parecia tudo normal. Continuou andando sempre com muita atenção. Quando chegou à cozinha, notou que havia alguém abaixado. Não podia destingir o sexo, pois estava com uma capa preta. Havia sangue por toda cozinha. Túlio ficou apavorado, não sabia o que fazer. Afinal de contas, pra que e porque alguém tentaria matar um velho na cozinha de sua casa? Não tinha inimigos, não falava com ninguém, a única pessoa que ele podia considerar assim era o assassino de sua mãe. Túlio e seu irmão, Mike, tinham presenciado o assassinato de sua mãe. Tinham 6 anos. Depois do episódio, foram pra adoção. Túlio nem se lembrava do irmão. Os pais adotivos de Túlio morreram dois anos atrás em um acidente de carro.
Túlio se lembrou do que estava acontecendo em sua casa. Queria chamar a polícia, mas o telefone encontrava-se muito longe e suas pernas estavam paralisadas com o medo. Túlio, tremendo, chegou mais perto do que parecia ser uma criatura vinda de filmes de terror. Era um velho aparentando ter uns 60 anos, com uma doença respiratória, ou talvez a respiração do velho pudesse ter acelerado com o susto e a adrenalina. Mas para Túlio não importava. Não quis chegar muito perto; no entanto, em um súbito momento de preocupação, quis socorrer o pobre senhor caído no chão.
_ O que houve aqui, senhor? – Perguntou em tom áspero e preocupado.
Mas o velho parecia não ter forças pra falar sequer uma palavra. Túlio ligou para a polícia, queria ajudar de alguma forma, mas sabia que não faria nada significante. Tinha 21 anos e era quase agorafóbico. No telefone, uma voz rude dizia:
_ O que está acontecendo? Onde você está, rapaz?
Muito tempo depois de passar seu endereço ao policial, dois carros de polícia com a sirene ligada chegaram a sua casa. Homens com coletes a prova de bala entraram agressivamente em sua cozinha, com armas potentes na mão.
Duas horas depois, Túlio se via em um hospital, com as mãos sujas de sangue, meio tonto e com as ideias confusas. O médico chegou à sala de espera perguntando se Túlio era parente do senhor. Túlio fez que não com a cabeça. O velho entrara em estado de coma.
Túlio voltou pra casa. As marcas de sangue permaneciam no chão da cozinha. Encostou-se na parede tentando assimilar as coisas. Foi tomar um banho e se deitar, não pensava em mais nada além de dormir, acordar no outro dia e ver que aquilo tudo foi um sonho. Logo embaixo de sua luminária havia um bilhete, com um desenho que parecia ter sido feito por um garoto de 5 anos. Uma carinha com uma frase ameaçadora logo embaixo. Túlio saltou de susto. Não se lembrava de ninguém que o odiasse tanto a ponto de tentar matar um velho em sua cozinha.
Dois dias depois, Túlio voltou ao hospital. Mas não obteve resposta nem pistas vindas do velho. Infelizmente, o senhor não tinha documentos e tinha falecido naquela manhã. Passou pela sua cabeça ser algum parente distante, mas a ideia logo foi embora. Todos os seus parentes moravam do outro lado do país.
Faltavam alguns dias para seu aniversário, Túlio mal sabia se ainda estava vivo. O carteiro passou deixando um cartão colorido desejando-lhe parabéns. A mesma letra e desenho do cartão do assassino (ou quase) ilustravam o cartão.
Naquela noite, Túlio tentava se distrair. Tentou ler um livro, mas logo foi interrompido por um homem parado na porta de seu quarto. O homem tinha um semblante cansado, mas lembrava astros de filmes de Hollywood. Usava um terno preto e era intrigantemente misterioso, familiar. Túlio tentou fugir, mas o homem era mais veloz.
Túlio sentiu a pancada em sua cabeça e apagou. Acordou dentro de uma câmara, amarrado em uma maca. Estava prestes a morrer.
O assassino sussurrou em seu ouvido: “Você se lembra de mim?”. Fazendo ele se lembrar do dia em que viu sua mãe sendo morta. Era Mike, sei irmão. Mas não fazia sentido. Ser morto pelo irmão, que tentou assassinar um velho em sua cozinha?
Mike estava nervoso, dava pra sentir a raiva em sua fala. Ficou calado durante alguns minutos. Então, começou a andar de um lado para o outro contando sua vida desde que foi deixado em um orfanato.
Decidiu soltar o irmão. Túlio não entendia porque tanto ódio. O irmão tinha se tornado um assassino, assim como o homem que matou sua mãe. Mike queria que o irmão o compreendesse, o ajudasse. Mas ele nunca foi capaz de matar as baratas de seu quarto. Ficou apavorado, começou a correr pela casa. Mike foi atrás. Depois de algum tempo, Mike entrou no mesmo cômodo que Túlio estava escondido. Tinha uma arma. A adrenalina fez Túlio prender o pescoço do irmão por trás com um arame, deixando a arma cair. Túlio jogou Mike para frente e pegou a arma do chão. Mal conseguia segurá-la, suas mãos tremiam. Em um susto, Túlio disparou, acertando a perna de Mike. Correu para a saída, mas todas as portas estavam trancadas. Teve que quebrar a janela.
Alguns minutos depois, Túlio revivia a situação que tinha passado dias atrás, com o velho no hospital. O médico perguntava se Túlio era parente de Mike, demorou até conseguir falar que era seu irmão. Túlio entrou e depois de alguns minutos, o irmão acordou, mas não disse nenhuma palavra. Túlio se desculpou pelo tiro, disse que tinha de atirar, ou morreria. Mike riu.
Túlio saiu do hospital em choque. Depois de conversar com o irmão, descobriu que o velho era seu pai. Mike sempre odiou o pai. Decidiu matar ele quando descobriu que abandonou sua mãe, mandou matá-la, e fugiu com outra. Não sabia pra onde ir. Então voltou pra casa. Mil coisas passavam por sua cabeça. Seu pai mandou matar sua mãe. Seu irmão tinha reaparecido e se tornado um assassino, matou seu pai e estava à beira da morte, no hospital, após tentar matá-lo.
Chegou em casa, a arma de Mike estava no chão do quarto. A polícia estava chegando. Sempre foi muito lenta. Tudo tinha acontecido rápido, e Túlio morava quase no fim do mundo. Pegou a arma, e junto com o barulho dos policiais derrubando a porta, ouviu-se um tiro.
No chão do quarto, estava agora o corpo de Túlio. Não perderia nada, não tinha nada. Depois do que aconteceu aquela semana, só sentia culpa e desespero. Os policiais levaram o corpo de Túlio, os médicos tentavam reanimar Mike, depois de uma hemorragia. No final, estavam todos juntos, o pai, os filhos e a mãe. Todos mortos. Poderia ser diferente. Mas às vezes os fracassos são melhores que os êxitos. Pelo menos pra eles.

Kelly – 207

2 comentários:

  1. Esse conto da kelly ficou muito bom daria ate para fazer um filme,so o titulo que nao caiu bem,mais a historia ficou otima teve muita criatividade

    Ass; Kaio-208

    ResponderExcluir
  2. Muito bom o conto, eu gostei porque primeiramente eu gosto de histórias de suspense, a história é interresante e te estimula a ler.O final foi improvável e isso em surpreendeu de uma forma positiva.
    Ana Carolina Pereira
    Turma 202

    ResponderExcluir